Se eu vivo

Se eu vivo na região abdominal de um país apodrecido,
Conformismo abjecto, aceitação que alimenta o colectivo,
Estado de catatónia desprezível que me faz ter sentido de decência,
Só me resta fragmentar-me em fezes intelectuais
Em tempos recordados como heróicos lutei contra o imposto
Conspurquei os símbolos dos regimes fascistas com frases de contestação.
Senti orgulho nas convicções que hasteei na bandeira da liberdade.
Que sentir agora que sou parte passiva do que apregoei ignóbil?
A náusea de um cheiro podre que também parte de mim
Provoca vómitos guturais que me anestesiam e entorpecem.
Estou cercado de pessoas pretensiosas que afirmam saber quem sou.
Protejo-me das intromissões alheias. Mas será o suficiente?
Quem me iliba por olhar o passado com orgulho?
Quem me condena por odiar a persecução do inevitável conformismo?

Como desejei cinco minutos de fama.
E como me odeio por tê-los usado de forma tão errónea.

Ontem mesmo nasceu uma criança cuja mente será circuncisada
Por uma sociedade que defende purismos
E á socapa empreende depravações nas mesmas crianças que quer puras.

Se eu vivo na região abdominal de um país apodrecido
Resta-me personificar doenças abdominais, tal guerrilha com propósitos políticos.
Hoje abandono este estado de preguiça intelectual e de acção,
Para abraçar a clandestinidade.
Serei ténia e obedecerei a um plano de destruição maciça.
Minarei o bom funcionamento deste intestino infesto.
O que fará com que, a médio prazo,
Todo o organismo seja afectado de uma forma irreversível.
Declaro guerra ao aparelho cerebral. Centro de operações.
Os meus coctails-molotov de febres incomodativas,
Assim as minhas bombas armadilhadas de mau estar,
Não darão descanso a este corpo envelhecido,
De pele rugosa cobrindo músculos atrofiados,
eles próprios envolvendo ossos raquíticos, descalcificados.
Um aparelho digestivo inactivo
impede o bom funcionamento deste corpo já de si doentio.

Convidarei outros a juntarem-se a mim num movimento concertado.
Inventaremos até um nome pomposo para o movimento:
MRVS
Movimento para a Restauração dos Valores Socialistas,
Com o intuito de reivindicar as acções de guerrilha a serem levadas a cabo.

Se eu vivo na região abdominal de um país apodrecido,
Protejo-me de mim próprio
Afirmando que sou consciente
Que me percebo excluído da engrenagem de uma sociedade injusta
Onde abunda a hipocrisia e o sono insensível
E em que a aparência dita julgamentos de valor.

Inundemos este país de doenças azul celeste
De realidades brilhantes
De oportunidades douradas
E justiça social

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